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Célia Correia Loureiro

Sobre a vida, em dias de chuva, de fascínio ou de indignação!

20
Ago24

Dias curtos


celiacloureiro

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Apesar de ser verão, os dias são incrivelmente curtos para tudo o que tenho de fazer. Durante anos, achei que era diferente de toda a gente. Agora tenho um diagnóstico que explica essa diferença: a de não conseguir tirar proveito, repousar, nas horas vagas.

Por isso, encho os meus dias de projetos, quero sempre acrescentar mais qualquer coisa à lista interminável de coisas a fazer. O tempo é sempre pouco. Quando dou por mim, faltam outra vez 15 minutos para as 20:00, o sol parece querer pôr-se e eu estou fechada no mesmo quarto, perante o mesmo computador, com os restos de um lanche rápido ao lado (a tigela e as partes rijas da meloa, a garrafa de água com gás a aquecer devagar). Vou ficar aqui mais algumas horas, por volta das 23:00 desligo tudo, deito-me na cama ali atrás e rezo para que não faça demasiado calor. Estou tão cansada. Mas não posso - nem quero - dormir. O Elvanse tem ajudado (muito) a ser mais produtiva, mas graças a ele trabalho dez horas por dia, seguidas, numa espécie de tunel com palas. Acordo, tomo o pequeno-almoço, engulo os comprimidos com água e sento-me na cadeira de gamer que comprei para ver se não massacro tanto as costas. Pestanejo e é hora de dormir de novo. Olho para o calendário e passaram dois, três meses. Não fiz nada de significativo - só cumpro metas, dou check em tarefas. A minha agenda voa e continuo no mesmo sítio. Compareço onde tenho de comparecer, mas parecia que ainda faltava tanto para esse compromisso, contudo é já amanhã. E não quero parar. Quero continuar. Quero voltar a estudar...

Que saudades de cometer a insensatez de fumar um cigarro, de perder tempo a olhar para as estrelas e a pensar a vida. Os dias agora dividem-se entre as tarefas domésticas, as mensalidades, o trabalho. Palavras, palavras ao computador. As gotas nos olhos - lágrima artificial, antibiótico, antihistamínico - as teleconsultas, a dor nas costas, porque não voltei a nadar. Estou cansada.

Estive sempre cansada. Passei os últimos vinte anos a dizer que estava cansada. Tenho medo de que aqui olhe pela janela e veja a vida passar ao som das gaivotas, e que no Alentejo olhe pela janela e veja as estações a passar na minha laranjeira ao ritmo da nidificação das andorinhas.

As enxaquecas pioraram, agora além dos analgésicos tomo profiláticos. A minha saúde pede-me que fique quieta - e eu já marquei um retiro de 20 dias na praia, noutro continente, noutra latitude - e espero que isso me salve, mas tenho de sobreviver até lá.

Estou cansada.

Estive sempre cansada.

Há vinte anos que me sinto à beira do colapso.

De algum modo, continuo sempre de pé.

 

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