Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Célia Correia Loureiro

Sobre a vida, em dias de chuva, de fascínio ou de indignação!

18
Fev25

Chapéu de palha


celiacloureiro

Imagem WhatsApp 2025-02-18 às 19.02.33_c40222e8.jHá sempre uma espécie de inquietude em mim, mas há muito que não sentia estar onde pertenço. Fez ontem um mês e 10 dias que vivo no Alentejo, e precisamente um mês que vivo numa pequena aldeia a poucos quilómetros do Redondo. Hoje, enquanto despachava uma série de recados de manhã, passeava por aquelas ruas e perguntava-me porque tive tanto medo de me afastar de Lisboa, porque tracei um raio tão próximo da minha velha vida para vir enraizar-me. Fui mal vestida - é um perigo, a pessoa cede ao conforto e descura a estética, pus roupa a lavar numa máquina industrial de rua e fui comprar 20 metros de cerca. Por toda a parte onde peço informações, as pessoas desviam-se do seu caminho para me dar indicações. Os jovens ajudam os idosos, eu icei um escadote para uma carrinha de caixa aberta e o funcionário da drogaria carregou as paletes. Onde quer que vá, tenho onde estacionar. Tudo funciona a um ritmo lento, a uma cadência humana e conversadora, em que as pessoas realmente se relacionam umas com as outras. Fui aos CTT e fiquei a saber que o senhor não era de lá, como eu não sou de cá. Fui às piscinas municipais e fiquei um bocadinho desiludida com o horário da natação livre, mas haja resiliência, retomo em breve. Comprei a rede e um chapéu de palha com uma fita às florinhas.

Passei a tarde a montar a cerca para evitar que os cães perturbem os borregos do vizinho. Estava vento, chuviscava, o cão tentava arrancar-me as luvas dos bolsos, o outro ladrava ao vento depois de saltar o muro atrás do qual tentei retê-lo. Naquelas condições, no meio dos arbustos do quintal para aceder à cerca existente, por vezes até com folhas na boca, com John Mayer a tocar no bolso do casaco e as mãos despidas, torci o arame uma e outra e outra vez. Usei o alicate, estendi a rede. Não estou habituada a trabalho físico, doía-me tudo, mas persisti até a chuva me impedir de continuar. Foi então que me ocorreu o pensamento: prefiro montar cercas no Alentejo a voltar a trabalhar num escritório em Lisboa. E é verdade. A sensação de peito cheio que tenho experimentado não tem par. A solicitude das pessoas, a verdadeira camaradagem, cooperação... Gosto de estar metida no meu canto, mas é mais fácil quando sentimos que estamos rodeados de bons corações. Nem um espirro. Nem uma lágrima. Na estrada de acesso à minha aldeia, as amendoeiras já estão em flor. Por toda a parte garças, grous, pegas, ovelhas, vacas, cavalos. A exuberância da natureza inspira-me e enche-me de calma, de uma felicidade tranquila e basilar. 

Que eu encontre aqui a minha casa, porque não me imagino mais feliz noutra.

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Favoritos

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D