Ordinary people
celiacloureiro
Está a ser um ano agridoce. Metade de 2025 passou e sinto que estive em tantos sítios mas que, acima de tudo, não estive enraizada em sítio algum. Agora, com o portátil no colo e a ventoinha no máximo, no meio de uma onda de calor na minha aldeia nos arredores de Évora, procuro sentir-me em casa.
Pergunto-me se este cansaço vai perdurar. Se vou sentir que estou a trabalhar em esforço, desinspirada, exausta, a arrastar-me. Há meses que sinto que a vida se resume a arrastar-me de um lado para o outro, de compromisso em compromisso, com laivos de beleza, de música, de cor, de afeto.
A vida parece-me promissora neste momento, há mais pessoas interessantes no mundo do que julgava. Conheci uma pessoa nova que me intriga e seduz, e que me fez desinstalar o Tinder e procurar ter paciência. Como diz o John Legend, maybe we should take it slow. Veremos onde o verão nos leva.
Daqui a dois meses começo o mestrado em História e estou entusiasmada com a ideia de meter as mãos numa área que me fascina.
Hoje pintei, fiz uma ressonância magnética ao ombro e quase adormeci dentro do aparelhómetro. Depois, fui ao Continente e vagueei a tentar lembrar-me do que precisava. O momento alto? Fui a cantar árias conhecidas daqui até à clínica, e de lá de volta a casa. Estou uma profissional na O mio babbino caro, mas sobretudo na minha favorita, Un bel dì vedremo. Preocupa-me esta paixão recente por cantar... geralmente, quando me apaixono, entrego tudo até ficar drenada. Não será fácil seguir mais essa paixão quando já mal tenho tempo para respirar... Contudo, deu-me prazer.
Fecho os olhos e permito-me sentir. O bom, o mau, aceito tudo. Estou a viver pela primeira vez em muitos anos. A permitir-me acreditar.
Um mergulho com vista universo.
Há poesia dentro de nós.