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Célia Correia Loureiro

Sobre a vida, em dias de chuva, de fascínio ou de indignação!

03
Dez24

Trinta e cinco


celiacloureiro

A menos de vinte e quatro horas de fazer trinta e cinco anos, olho o tempo através do filtro esverdeado daquele que julgo ser o primeiro retrato com a minha mãe. O meu aniversário será sempre dia de pensar nela, porque foi o dia em que nasceu como mãe, e o meu pai como pai, e os meus avós como avós. O meu pai tinha vinte anos, a minha vinda era incrivelmente precoce - e naturalmente indesejada -, mas atrevo-me a dizer que os sorrisos começaram a surgir pouco depois. A minha avó, na altura com cinquenta anos, ficou encantada por poder apaparicar uma netinha depois de dois filhos homens. Penso que lhe devo o meu humor, a resposta rápida. Duas sagitárias que, apesar das quezílias ocasionais, se admiravam mutuamente (estou em crer).

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O texto de hoje não é para falar de tempo. Ou melhor, é para falar sobre o tempo das oportunidades e o tempo do descanso. Sinto-me a derrapar. Cansada, comecei a fugir a algumas obrigações. Preparo-me para faltar à segunda semana de aulas de enfiada, mas tenciono, ainda assim, concluir os trabalhos do semestre. Não me importo de ser reprovada. Faço-o por mim, pelo exercício mental, e não pelo diploma. Vivemos num mundo - num tempo - em que tudo tem de servir um propósito. Ouço muitos podcasts de humor que acabam, inevitavelmente, por fazer pouco dos livros de autoajuda, dos coachs disto e daquilo, dos suplementos mágicos e das dietas milagrosas. As pessoas estão tão desesperadas por sentirem que têm alguma relevância, algum significado, ou mesmo impacto, na vida dos outros, que parece que vivem completamente alienadas de si próprias e da realidade. Estou cansada de frases feitas.

Começo a ver alguma luz ao fundo do túnel da minha casa. Se o universo estiver de acordo, em breve serei apenas duas luzinhas numa rua com meia dúzia de casas, com dois cães, uma lareira acesa, uma caneca de chá e um rasto de fumo a elevar-se da chaminé para um céu noturno estrelado, infinito, abobadado.

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